É comum nos últimos dias do ano nos tornarmos um pouco mais reflexivos, ainda mais quando sobra um pouco mais de tempo, às vezes escasso no meio dos afazeres do dia a dia. E eu não sou exceção a essa regra.
Diz a sabedoria popular que o sapo, quando colocado numa panela com água quente, pula fora na hora e sobrevive. Entretanto, quando o mesmo sapo é colocado na panela com água fria e, gradualmente, a água vai aquecendo mais e mais, ele demora a reagir e acaba por morrer inchado depois de um tempo.
Muitas vezes a vida boa oferece condições que nos parecem boas, confortáveis e prazerosas. E nos acostumamos a ver aquela situação como algo muito positivo. Mas as coisas mudam sem que nos atentemos para isso. A água começa a esquentar, e quando nos damos por isso já não temos mais tempo nem forças para mudar. Às vezes ainda tentamos, outras nos resignamos e nos conformamos, até que morremos cozidos e inchados.
Quando percebemos, já não sabemos há quanto tempo essa água começou a aquecer, nem a rapidez com que isso aconteceu. Talvez ´tenha estado assim desde sempre. Talvez já soubéssemos disso há muito tempo, mas tenhamos optado por permanecer inertes. Talvez não acreditássemos (e ainda não acreditemos) que seria possível reverter ou mudar a situação. Que não temos controle sobre o fogo que aquece a água ou que não tenho alternativas além dessa panela. E decido permanecer onde estou.
Até o momento em que não temos mais escolha. E somos obrigados a despertar.
Individual e coletivamente, em vários campos e em muitos aspectos, esse foi um ano de despertar. De olhar para os lados e procurar entender onde nos encontramos. De perceber que a situação já não está confortável, e que faz muito tempo que está assim. Que a água já está muito mais quente do que somos capazes de suportar. Que não temos nenhuma vantagem, e sequer a possibilidade, de manter essa situação. Que não temos a opção de permanecer no lugar que estamos, sob pena de padecer de um triste fim. Que mudar ou lutar são as únicas opções.
E começamos a reagir, a mudar. Talvez ainda não com a força e a destreza necessárias, mas com a coragem dos que não se conformam.
Espero que 2023 seja um ano de perceber e compreender o que nos aflige, e tomar atitudes claras quanto a isso. Esse é o meu desejo, a minha busca. Este ano com certeza será diferente, porque eu pretendo fazer com que seja assim.
Ainda não sei onde e como isso pode acabar, ou mesmo se vai acabar um dia. Mas com certeza já não estamos onde sempre estivemos. E não voltaremos para lá. Com todas as incertezas do mundo lá fora, a melhor opção, ou melhor, a única, é sair das panelas mornas e confortáveis, antes que elas se tornem quentes e mortais. Uma decisão que não pode ser adiada. E não será.