Ciclos e eventos que se repetem em nossa vida sempre, inevitavelmente, trazem uma mensagem. Cabe a nós perceber, identificar e compreender essa mensagem.
Um dos filmes que eu realmente gosto é “O feitiço do tempo” com Bill Murray e Andie MacDowell, de 1993, que trata muito bem desse tema e acabou inspirando uma série de outros filmes com a mesma ideia base, mais ou menos genéricos.
No filme, Murray vive Phil Connors, um presunçoso e arrogante meteorologista da tevê escalado para a cobertura do tradicional Dia da Marmota. Após viver o tédio e as frustrações de mais um dia normal, ele, para sua surpresa, fica preso numa armadilha temporal que o faz reviver o mesmo dia vezes sem fim, aparentemente sem explicação. Ele passa por vários estágios: surpresa, revolta, impotência, apatia, depressão. Em alguns momentos, aproveita a repetição para agir de forma irresponsável, mas acaba ficando cansado e passa a tentar lidar com a situação de forma mais positiva, mudando suas escolhas e com isso alterando os resultados, para si mesmo e para as outras pessoas envolvidas nos eventos do dia. Começa fazendo isso com atos e palavras simples, e amplia até que, depois de mais uma infinidade de repetições, consegue alterar a essência da experiência, fazendo as mudanças que o conduzem ao fim do looping daquele dia, que nada mais era do que um reflexo da própria ausência de sentido de sua própria vida. O aprendizado trouxe a mudança e, por fim, a renovação. O próprio espírito da famosa frase que diz que “loucura é querer obter resultados diferentes fazendo as mesmas coisas”.
Essa reflexão me foi trazida recentemente, eu que fui visitada pelo feitiço do tempo. Após pouco mais de dois anos de ter sofrido um acidente em que fraturei o meu pulso direito, algo muito parecido voltou a acontecer. Na tarde do domingo dia 8, eu estava tranquilamente pedalando na belíssima ciclovia do Cabo Branco, apreciando o belo fim de tarde na beira do mar. Fazia muito tempo que eu não pedalava nesse dia, horário e local, e fui surpreendida pelo enorme fluxo de pessoas a pé, cachorros, bicicletas, triciclos, patins, patinetes e todos que compartilham o uso da ciclovia, deixando até mesmo a calçadinha em segundo plano. Apesar de andar devagar e com atenção, fui surpreendida por uma pessoa que atravessou a ciclovia repentinamente no momento em que eu ultrapassava um triciclo que ia mais devagar. Numa manobra desastrada, caí da bicicleta, e acabei fraturando novamente o pulso, desta vez o esquerdo.
Após ser socorrida por um ciclista que estava a paisana no local, apenas curtindo o belo fim de tarde, iniciei novamente a peregrinação: passei por quatro médicos ortopedistas, dois dos quais especialistas em mão e punho, e passei por nova cirurgia na manhã de quinta-feira, dia 12. Pelo que o médico conversou com minha irmã, o resultado ainda é incerto, pois as lesões foram muito graves. Os ossos se partiram em múltiplos fragmentos e uma parte deles chegou a se esfarelar, deixando muitas inseguranças sobre uma recuperação plena.
Ao final da cirurgia, o prognóstico é que cerca de 70% do problema foi resolvido. O que acontecerá com o restante? Será tratado em uma próxima etapa? Perdido? Quanto pode demorar, qual o comprometimento, os resultados possíveis e o esforço necessário? São perguntas aflitivas, para as quais ainda não emos respostas.
Procuro, agora, manter a disciplina, a paciência, conter a ansiedade e, sobretudo, compreender a mensagem que esse novo, e ao mesmo tempo, velho evento me traz. Desse ciclo que se repete, com todo o medo, raiva, dor e impotência. Espero, como Phil, encontrar a chave que leva à saída desse ciclo, e chegar ao final dessa etapa mais forte e por que não dize, mais inteira e plena.