Há um antigo conto zen do qual gosto muito, e que me inspira bastante. Uma história que apresenta um homem, um tigre e um morango.
Certa vez, um homem viajava pelo campo, tranquilamente, quando se deparou com um tigre. Sem pensar duas vezes começou a correr. O tigre começou a persegui-lo. Cada um corria mais rápido, até que o homem se deparou com um abismo.
Tinha, então, poucas chances: ou pular ou ser devorado pelo tigre que já se aproximava perigosamente.
Ele, então, viu algumas raízes de uma vinha selvagem expostas na beira do precipício, e rapidamente foi até elas, segurando-as com força. Ganhou tempo, mas percebeu a dimensão do problema: o abismo era profundo, e a queda poderia ser fatal.
O tigre então se aproximou e permaneceu ali na beira do abismo, esperando. O homem já dava sinais de que não aguentaria mais muito tempo. O desespero começava a tomar conta dele.
Nesse momento, seus olhos foram atraídos por um belo morango que estava próximo à vinha. Parecia extremamente suculento. Ele não resistiu: segurando a vinha com uma mão, com a outra colheu o morango e o comeu.
E o morango estava delicioso!
O conto vai até aí. Não sabemos o final da história: se o homem sobrevive, se é devorado pelo tigre ou se cai no abismo. O que se quer ressaltar é apenas que mesmo no momento mais difícil, em que a solução não aparece, não devemos deixar de comer os morangos da vida. Aquele momento de alegria, de encontro, de simples prazer, não deve ser perdido.
Não significa viver irresponsavelmente, apenas não deixar que os problemas, o medo, as dúvidas nos tornem cegos para a beleza das pequenas (grandes) coisas, para os sabores inesperados que estão a nosso dispor. Os morangos surgem em nossa vida nos momentos mais inesperados, às vezes quando passamos por aquela situação mais desesperadora. Não é motivo para não desfrutarmos dele. o fato de comer ou não comer o morango não vai eliminar nem solucionar o problema. Ele permanece. A solução está para além dele.
No conto, o homem, apesar de sua situação desesperadora, escolheu não deixar que os perigos potenciais o paralisassem. Ele continuou capaz de ver o que o momento lhe oferecia, e desfrutar desse presente precioso.
É famosa a expressão “carpe diem”, que significa “colha o dia”. Devemos estar conectados, atentos, para ver e colher o que o dia tem para nos oferecer, desfrutar de cada momento, do frescor e sabor de cada instante.
O morango representa a beleza inesperada, a bem-aventurança, a energia e a vitalidade do momento presente. Está sempre aqui, sempre disponível para os que tem a habilidade de vê-la e fruí-la.
Provar o morango é saborear inteiramente a realidade, apreciar o milagre da existência e a observar a beleza que está sempre presente, onde quer que olhe, o que encherá seu coração de alegria e gratidão.
E você, já colheu o seu morango hoje?